quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Uma mensagem reconfortante: Um convite a mais à filo sofia!

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por Ana Maria Sampaio Cançado *
Querido Carlos Getúlio,
agradeço sua gentileza no delicioso convite ao diálogo e sobretudo ao sofá. Genial! Ótima ideia... E bastante confortável, não obstante, falando em tempo e espaço, o passar de longos 25 séculos de possibilidades de DIalogar. É bem verdade que a conversa devia ser também muito interessante antes desses 25 séculos passados, mas convenhamos que era mesmo necessário (não contingente) dar um ponto de partida - Descartes também  não começou assim? Ponto de partida: o pensar e o pensante. Não necessariamente o contrário?
Sim, sou só perguntas. Sim, para isso vim ao mundo: para perguntar. Até que acordei com um anjo maligno a me inquerir:
- Só sabe perguntar?
- Nem isso, respondi de pronto.
Nos diálogos de Platão mais falam os que menos sabem, ou só sabem que nada sabem.
"E o tempo não para no porto, não apita na curva, não espera ninguém." - diz a canção.
Por favor, poste-me no seu blog, posto que sou tecnoburra e sigo sendo.
Te beijo, te festejo.
Té mais tarde.
DadaaoDIálogo.com
* Ana Maria Sampaio Cançado é estudante de Filosofia Graduação na Universidade Federal do Ceará, advinda das Terras dos Goiás. Gosta de Woody Allen e seu primeiro bicho de estimação chamou-se Rivelino: a gata pariu quatro gatinhos no final da Copa do Mundo de Futebol de 1970. "Um gato para cada gol"
** Quino é argentino de Mendoza, tem um humor platino e é uma das provas vivas de que a Filosofia não morreu na Europa. 
 



sábado, 6 de novembro de 2010

O Dialogar Filosófico


por Ana Carneiro Conzatti*

Uma boa palavra para definir a Filosofia é “diálogo”. Filosofar é, antes de tudo, dialogar, pois pensamentos interessantes não se constroem a partir de uma mente só, já que, como seres humanos, somos limitados no espaço e no tempo. Todo homem só é capaz de construir teorias que contemplem sua própria visão de mundo. No entanto, mesmo esta não é genuinamente sua pois, em todos os casos, se forma por intermédio de muitas pessoas. Por vezes, idéias geniais, brilhantes, são atribuídas exclusivamente a seu autor, mas todos se esquecem que elas o são justamente por resistirem, quase intactas, ao escrutínio do livre questionamento e do inescrupuloso tempo.

É evidente que grandes pensamentos não “brotam do nada”: são elaborados ao longo de uma vida, ou de várias, e através de muitos remendos e reformulações. E o que é a elaboração de um pensamento senão sua construção verbal, de forma que possa ser transmitido a outros, seja através de textos escritos ou oralmente? Se pensarmos bem, para qualquer pessoa, o momento de expor suas idéias ao mundo é o resultado de um grande processo de elaboração mental, para o qual já contribuíram inúmeras outras pessoas.

Com isso, pode-se afirmar que, apesar do que dizem as aparências, Filosofia nunca se faz sozinho. A idéia pode ser sua, você pode tê-la escrito inteiramente, mas jamais ela terá surgido por mérito única e exclusivamente seu. Seus pais, amigos, vizinhos, colegas e até completos desconhecidos; a mídia, o governo, a comunidade, a igreja e outras instituições; outros povos e culturas; enfim, todas as pessoas e idéias que fizeram parte da sua vida, direta ou indiretamente, tiveram sua parcela de contribuição para que seu pensamento saísse exatamente como saiu.

Bom, se por um lado não há pensamento de autoria exclusiva de uma única pessoa, também não há pensamento válido sem a interação com o mundo, sem viver no mundo. Filosofia é, pois, fruto da contemplação da realidade humana. Qualquer pensamento que a desconsidere jamais poderá ser considerado filosófico. Será poesia, mito, ou apenas pura fantasia, isso senão for visto como bobagem ou loucura e cair no ostracismo.

No nascimento de um pensamento é possível percebermos outra característica do diálogo: a interiorização do conteúdo, a reflexão sobre o que está sendo pensado. Mas, a Filosofia, diferentemente de em um diálogo comum, não se satisfaz com uma mera
opinião ou com o consenso entre os participantes. O diálogo dito filosófico é verdadeiro, onde os envolvidos estão realmente interessados em esgotar todas as possibilidades do próprio diálogo e da razão, pois dialogar verdadeiramente significa mais do que ser sincero, significa estar disposto a ir até as últimas consequências da crítica e da argumentação. Não apenas as idéias apresentadas devem ser coerentes e bem fundamentadas: estarão em debate também os seus próprios pressupostos e fundamentos sobre os quais ela se apóia, numa tentativa de dar coerência ao todo.

E, nessa busca pela unificação do pensamento, este volta-se sobre si mesmo e, de repente, o assunto torna-se o pensar. O diálogo filosófico é, pois, reflexivo, ou seja, na discussão sobre a realidade, o filósofo volta-se sobre o real. Sobre aquilo que existe, o filósofo ocupa-se do existir, da existência. Na busca por saber o que as coisas são, ocupa-se do “são” e vai atrás do “ser” das coisas. Do conhecimento, busca o conhecer, seus limites e possibilidades; e assim por diante.

Por fim, o diálogo filosófico está permanentemente aberto a todos os interessados. Ou seja, o resultado de todo esforço dialógico, para que possa ser considerado filosófico, deve ser submetido à crítica, à análise inter paris, e deverá e vencê-la mediante uma boa argumentação. Esse é o preço da liberdade: o respeito para com a liberdade do outro. Aqui, não adianta gritar para ser ouvido, pois quem escuta é a razão. É, pois, condição sine qua non para o verdadeiro diálogo filosófico saber justificar posições, se se espera que mais alguém concorde com o que está sendo dito. De outra forma, haveria apenas um monólogo: eu falo e você escuta. No diálogo verdadeiro, em especial naquele em que se pretende entender melhor o mundo e produzir conhecimento, é preciso que a via seja de mão dupla. E isso implica saber criticar e ser criticado.

Portanto, se você espera ser ouvido, ou seja, se espera um dia ser levado a sério, é bom que aprenda, o quanto antes, a criticar e a receber críticas da melhor forma possível, tendo a plena consciência que nas pontas de cada diálogo, intermediando e analisando pensamentos, encontram-se seres que, por sua condição humana, não nasceram vendo a crítica como algo construtivo e indispensável, como crítica ao pensamento e não ao pensador. Nesse ponto, o verdadeiro filósofo deve, sim, ter tato ao dizer o que pensa, mas principalmente, deve conseguir distinguir-se de seu próprio pensamento sem perder sua identidade. Só assim ele será capaz de atingir distância suficiente de sua obra para que possa ver o todo e para aceitar as críticas. Só assim, também, ao analisar as críticas recebidas, conseguirá separar as pertinentes das inócuas, já que é naquelas que está o potencial para o progresso, para que possa dar prosseguimento a suas pesquisas e a aperfeiçoar sua idéia inicial.

Aqueles que já tiveram de enfrentar a crítica sabem, de alguma forma, que são de grande valia qualidades como a humildade, a paciência, e a perseverança (e, é claro, um profundo conhecimento sobre o tema em questão), e quão terríveis são as consequências da precipitação, do preconceito e do egocentrismo. O pior momento talvez seja aquele em que o pensamento é exposto ao erro. É o momento a partir do qual a idéia, em parte ou totalmente derrubada, deverá ser reavaliada e, se possível, reconstruída, senão, abandonada. Esse é um dos momentos mais difíceis de manter-se à distância da idéia, pois uma falha encontrada nesta implica necessariamente uma falha naquele que a criou. Mas, não é esse um dos maiores desafios verdadeiramente humanos: o de conseguir ver e aceitar as próprias falhas? Sem isso, não se produz conhecimento, e não se permite ao homem superar-se a si mesmo.

Dizer que filosofar é dialogar é, portanto, dizer que é necessário o outro; que é necessário estar no mundo e trocar experiências, que é necessário desenvolver, voluntária e conscientemente, a capacidade de se auto-aperfeiçoar. Dizer que filosofar é dialogar é compreender que a Filosofia não foi criada pela mão e pela vontade de um: ela é, hoje, como em cada momento de sua existência, o estado atual de um processo de árdua elaboração em constante desenvolvimento, que perpassa vidas e vidas, séculos e séculos. É processo jamais concluso e sempre renovado, que perdurará enquanto houver inquietação na alma humana.

Em suma, sem diálogo verdadeiro, sem Filosofia, o homem jamais será de fato livre, pois ser livre é poder expressar-se dentro do limite da liberdade do outro. Sem diálogo verdadeiro, o homem jamais entenderá sua própria humanidade, pois ser humano é superar-se continuamente. Sem Filosofia, o ser humano jamais conhecerá o mundo ou a si mesmo: ele estará condenado a permanecer confinado no mundo por ele criado para quem que ele acha que é.**
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*Ana Carneiro Conzatti, ou como está sendo cognominada agora, Ana Maranhão, é graduada em Tecnologia da Informação pela Universidade Federal do Maranhão. Ela lê Gadamer, assiste Jornada nas Estrelas e tem um talento especial para o diálogo.


** Esse texto já fui publicado duas vezes, uma em Antropologia Filosófica (http://antropologoifilosofante.blogspot.com) e a outra no Pensar?! (http://aquempensarpossa.blogspot.com/), seu blog pessoal.

Referências:

1) http://antropologoifilosofante.blogspot.com/2010/03/o-dialogar-filosofico.html
2)https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEik9eKU5gGOe2ZRny9Lfu1bnrsM5eYeJpHNmtHjAQLdLvSU1A3iRoucPgf_bx4-W4RqPjZwGo1ict7jqsUhfvuza-FkkPL7hPxdyehwZz_Gv0ssAeZsisPm02N-r26p8Ar_ZeXl2CDZXtk/s1600/comunicacao-2.jpg

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Introdução



Tudo começou com um Sofá. Pernas, braços e um espaldar de cochilar o espinhaço. No Sofá: Descartes, Hume e Kant debateram o sujeito. No Sofá Platão e Hannah Arendt falaram sobre o papel da violência na Cidade. No Sofá Lévinas, Sartre, Heidegger e Aristóteles trocaram acaloradas opiniões sobre o São Paulo Esporte Clube. No Sofá tiveram o prazer de ouvir Bach Nietzshe e Santo Agostinho de Hipona, ah claro, sem esquecer os memoráveis momentos de ternura entre Heráclito e Parmênides, claro que eles gostaram de Manuel Bandeira. Ah, sim, a Marilena, boa amiga de Karl Marx, disse, com todas as palavras para Rosa Luxemburgo: É ou não é? E sim, Piaget e Berkeley chegaram num admirável consenso, enquanto Wittgenstein pedia ternas desculpas a sir Karl Popper... E (h)ouve também o caso de Kripke e Madame Beauvoir, num admirável debate sobre a importância do nome Simone. E sim, sim, não nos esqueçamos de quando Sócrates levou Dostoiévski a um ataque epiléptico, Lispector a uma profunda repulsa, e os srs. Saramago, Eça e de Assis a incontroláveis acessos de riso. Ah, o Sofá. Ali é que era divertido. Bom Sofá, berço de boas histórias.

Bom, Quem-lê, este texto de introdução é uma pequena brincadeira para meio que quebrar o gelo entre quem acha que a Filosofia é um Bicho-de-7-Cabeças, quem tem certeza que Filosofia realmente tem 7 cabeças, se não mais, e quem pode, na medida do aceitável, aclarar esse ou aquele ponto, mas, acima de tudo, contribuir para o diálogo entre quem está no âmbito da Filosofia e quem não está. A ideia do sofá veio  bem a calhar, porque o trocadilho e a remissão aos maravilhosos e preferidos móveis da sala podem, esperamos, ser um grande portal para quem nunca ouviu falar mais de Filosofia do que "é a amizade à sabedoria" e  aqueles que tem os meios de traduzir os filósofos para uma linguagem mais próxima do quotidiano e mais despida de maneirismos. 

Por isso, antes de um blog, isto aqui é um grande Sofá, onde sentaremos, nos habituaremos às almofadas e conversaremos sobre Filosofia principalmente, mas também sobre Psicologia, Educação, Arte, Ciências Sociais e Físicas, Literatura, Teatro, Atualidades, História e o que mais houver. Com isso, ah como é bom dizer "com isso", esperamos de fato, FiloSofá!